sábado, 22 de novembro de 2025

 

O PREÇO DA CHUVA NA BACIA DA PRAINHA


POR QUE O ARAÉS E ALGUNS BAIRROS DE CUIABÁ PAGA POR ESGOTO QUE NÃO É TRATADO?

O SISTEMA DE TEMPO SECO DA CAPITAL MATO-GROSSENSE E A INJUSTIÇA TARIFÁRIA QUE DESÁGUA NO RIO CUIABÁ

Cuiabá, a capital verde, ostenta um sistema de tratamento de esgoto que, à primeira vista, parece cumprir seu papel. No entanto, uma análise mais aprofundada revela uma realidade preocupante: em boa parte do ano, especialmente durante o período chuvoso, o esgoto da BACIA DA PRAINHA é despejado in natura no Rio Cuiabá, o manancial que abastece a própria população.

O mais grave é que, mesmo com essa interrupção no serviço, o cidadão cuiabano continua pagando a tarifa integral, como se 100% do esgoto fosse tratado. Essa é uma questão de saúde pública, ambiental e, acima de tudo, de justiça tarifária.


1. O QUE É O TRATAMENTO DE ESGOTO DE TEMPO SECO?

Para entender a controvérsia, é fundamental compreender o que é o sistema de tratamento de esgoto de tempo seco, adotado em Cuiabá, na BACIA DA PRAINHA. Em termos simplificados, ele é projetado para operar eficientemente apenas em dias sem chuva.

Como funciona em Cuiabá:

  • Dias sem chuva: O esgoto doméstico e industrial é coletado e direcionado para a Estação de Tratamento de Esgoto (ETE). Lá, ele passa por processos físicos, químicos e biológicos para remover poluentes antes de ser devolvido ao meio ambiente (Rio Cuiabá)
  • Dias de chuva: A situação muda drasticamente. A rede coletora de esgoto, que deveria receber apenas o efluente doméstico, acaba recebendo também a água da chuva (pluvial) devido a ligações serem ligada diretamente ao CÓRREGO DA PRAINHA, por meio das GALERIAS DE ÁGUA PLUVIAL. Como as ETEs não são dimensionadas para tratar esse volume extra de água, o sistema é projetado para desviar o esgoto bruto diretamente para o Rio Cuiabá, evitando o colapso da estação.

O período de chuvas em Cuiabá, que tipicamente se estende de setembro a março, (com a famosa chuva do DEITA CAPIM), representa uma parcela significativa do ano em que o sistema de tratamento simplesmente não funciona como deveria, despejando uma carga poluente inaceitável no principal corpo d'água da região.


2. A CRÍTICA PRINCIPAL: COBRANÇA INJUSTA POR SERVIÇO PARCIAL

A grande questão que se impõe é a cobrança. O consumidor cuiabano da BACIA DA PRAINHA, paga uma tarifa de esgoto que pressupõe o tratamento de 100% do volume gerado. Contudo, nos dias de chuva, que podem representar entre 30% e 40% do ano em Cuiabá, o serviço de tratamento é simplesmente suspenso.

O CÁLCULO DA INJUSTIÇA: Se considerarmos que, em média, 100 a 120 dias por ano (aproximadamente 30-40%) a cidade enfrenta chuvas que levam ao despejo de esgoto bruto no rio, isso significa que, por mais de um terço do ano, o cidadão paga por um serviço que não é prestado. É como pagar a conta de luz por 30 dias, mas ter energia apenas por 20. A tarifa integral, nesse contexto, torna-se uma cobrança indevida por um serviço parcial, gerando um ônus financeiro injustificável para a população.


3. IMPACTO AMBIENTAL: O RIO CUIABÁ COMO ESGOTO A CÉU ABERTO

As consequências do sistema de tempo seco são severas para o meio ambiente e a saúde pública. O Rio Cuiabá, um manancial de importância vital para a região, que abastece a população e sustenta ecossistemas, transforma-se em um receptor de esgoto bruto nos dias de chuva.

Consequências diretas:

  • Contaminação do manancial: O despejo de esgoto sem tratamento eleva drasticamente os níveis de coliformes fecais, matéria orgânica e outros poluentes na água. Isso compromete a qualidade da água para consumo humano e para a vida aquática.
  • Problemas de saúde pública: A contaminação da água aumenta o risco de doenças de veiculação hídrica, como diarreia, cólera, hepatite A e leptospirose, afetando diretamente a saúde da população que depende do rio, seja para consumo, lazer ou subsistência.
  • Qualidade de vida: A degradação do Rio Cuiabá impacta a qualidade de vida de toda a comunidade, que perde um recurso natural valioso para atividades recreativas e de contemplação, além de sofrer com o mau cheiro e a poluição visual.

4. ANÁLISE TÉCNICA: POR QUE O TEMPO SECO?

A escolha por um sistema de tratamento de tempo seco geralmente está atrelada a fatores históricos, econômicos e de infraestrutura. Em muitos casos, é uma solução mais barata e rápida de implementar em cidades com redes de esgoto antigas e mistas (que coletam esgoto e água da chuva).

Fonte: Para evitar "rasgar" Prainha, Águas vai implantar Coleta a Tempo Seco: drenagem | MT Em Ponto

https://www.mtemponto.com.br/variedades/para-evitar-rasgar-prainha-aguas-vai-implantar-coleta-a-tempo-seco-drenagem/2957

Limitações e custos:

  • Infraestrutura existente: A rede de esgoto de Cuiabá, na BACIA DA PRAINHA, está sendo construída sem a devida separação entre esgoto e águas pluviais, tornando a adaptação para um sistema de ciclo completo extremamente cara e complexa.
  • Custo vs. benefício: A decisão por um sistema de tempo seco muitas vezes prioriza o custo inicial de implantação em detrimento da eficiência ambiental e da saúde pública a longo prazo. Uma ETE de ciclo completo, que trata o esgoto mesmo com a adição de águas pluviais (ou que exige uma rede separada), demanda investimentos muito maiores em dimensionamento e tecnologia.
  • Comparação com ETE de ciclo completo: Enquanto uma ETE de ciclo completo garante o tratamento contínuo, independentemente das condições climáticas, o sistema de tempo seco de Cuiabá revela uma fragilidade que se traduz em poluição e injustiça.

5. CRÍTICA ECONÔMICA: A INJUSTIÇA TARIFÁRIA

A cobrança de uma tarifa integral por um serviço parcial não é apenas uma questão de princípio, mas um problema econômico que afeta diretamente o bolso do cidadão, especialmente as famílias de baixa renda, que destinam uma parcela maior de seus orçamentos para serviços essenciais.

A necessidade de proporcionalidade: 

Se o serviço de tratamento de esgoto é interrompido por 30% a 40% do ano, seria justo que a tarifa fosse reduzida proporcionalmente, cobrando-se apenas 60% a 70% do valor da TRA (Tarifa Referencial de Água). A manutenção da cobrança cheia, sem a devida contrapartida, configura uma injustiça tarifária que exige revisão. Em outras capitais brasileiras, onde o tratamento é mais robusto, a população tem a garantia de que está pagando por um serviço contínuo e eficaz. Em Cuiabá, na BACIA DA PRAINHA, essa garantia não existe durante as chuvas.


6. DEMANDA POR JUSTIÇA TARIFÁRIA E TRANSPARÊNCIA

A situação atual exige uma mobilização da sociedade e dos órgãos competentes. O consumidor cuiabano está pagando por um serviço não prestado, e essa prática não pode ser tolerada.

Ações necessárias:

  • Revisão da tabela de cobrança: É imperativo que a AGENCIA REGULADORA, responsável pela regulação e fiscalização do serviço, revise a estrutura tarifária para refletir a realidade do tratamento de esgoto na BACIA DA PRAINHA.
  • Regulação inadequada: A falta de uma regulação que contemple a intermitência do serviço de tratamento de esgoto em dias de chuva é um indicativo de falha na proteção do consumidor e do meio ambiente.
  • Chamado aos órgãos de defesa do consumidor: Procon, Ministério Público e outras entidades devem investigar essa prática e defender os direitos dos cidadãos, exigindo transparência e adequação das tarifas.

CONCLUSÃO: É HORA DE AGIR PELO RIO E PELO BOLSO DO CUIABANO QUE RESIDE NA BACIA DA PRAINHA

O Caminho a Seguir:

É imperativo que a agência reguladora, os órgãos de fiscalização e a sociedade civil exijam maior transparência sobre o tipo de tratamento de esgoto em cada região. Além disso, é fundamental que haja uma REVISÃO DAS METODOLOGIAS DE COBRANÇA, criando tarifas justas que reflitam a realidade da prestação do serviço.

O tratamento de esgoto de tempo seco é um remanescente de sistemas antigos que precisa ser superado. o mínimo que se espera é que o consumidor pague por aquilo que de fato recebe, garantindo a justiça na tarifa e, principalmente, a proteção dos nossos preciosos recursos hídricos como o Rio Cuiabá.

O Rio Cuiabá e o bolso do contribuinte merecem respeito

SAIBA MAIS EM:

ESGOTO DE TEMPO SECO – PARTE 2 - Jorcy Aguiar : Resultados da pesquisa ESGOTO DE TEMPO SECO

Publicação de: 23/01/2.017

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