A cloração em águas
oriunda de poços sempre foi um desafio nos sistemas públicos. E não são raros
os problemas decorrentes dos diversos processos criados para este fim, onde
destacamos.
1
– Cloração com injeção de cloro dentro do poço.
Este sistema quando
utilizado exige que o revestimento do poço, e o tubo edutor tenham sido
instalados em materiais não oxidáveis como o PVC. Caso contrário com a
aplicação de cloro em tubos de ferro galvanizado, é provocado a corrosão com
queda de bombas no poço, causando na maioria das vezes a sua inutilização.
Mesmo com a utilização
dos materiais resistentes a corrosão pelo cloro, o controle de dosagem é
extremamente difícil, em casos de abastecimento direto nas redes de
distribuição.
2
- Cloração com injeção de cloro dentro do tubo adutor.
A cloração com injeção
de cloro na adutora é de altíssimo grau de dificuldade, pois exige uma pressão
de injeção muito superior a pressão de adução que em geral é muito elevada.
A solução para esta solução deve ser feita com a utilização
de um tubo Venturi, que cria uma zona de baixa pressão, e até de vácuo
possibilitando a sua aplicação, porém ainda tem como inconveniente a geração de
uma perda de carga localizada, exigindo maior potencia e consequente elevação
do custo de energia. Adicionado ao fato, que a dosagem de cloro é de difícil
controle, tendo em vista as variações da demanda quando ao abastecimento é feito
diretamente na rede de distribuição.
2
– O Chupa Cabra
Fonte: Águas
de Holambra
Fonte:
Alysson Morais da Silva - Carla Maria Abido Valentini
Diante destas e outras
dificuldades, em meados da década de 90, surgiu a ideia, de aplicar o cloro por
meio de desgaste de pastilhas ou tabletes de cloro, com a utilização de
um tubo de pitot, nas adutoras dos poços. Era um sistema relativamente simples
que só poderia ser feito com o advento das referidas pastilhas, e que perdura
até hoje.
Neste mesmo período estava em evidencia os ataques do Chupa Cabra,
que era uma suposta criatura responsável por ataques sistemáticos a animais rurais
em regiões da América, como Porto Rico, Flórida, Nicarágua, Chile, México e Brasil.
O nome da criatura deve-se
à descoberta de várias cabras mortas em Porto Rico com marcas de dentadas
no pescoço e
o seu sangue drenado.
E em tom de pilhéria, o instrumento aplicador de cloro em pastilhas, foi
apelidado de CHUPA CABRA, pelos técnicos do setor de tratamento da Empresa
estatal SANEMAT.
OS
PROBLEMAS DA CLORAÇÃO COM O CHUPA CABRA
Primeiro
Problema: A Seleção do Produto
Com
a introdução do chupa cabra, os problemas hidráulicos de aplicação do cloro,
foram solucionados, porém um componente principal era a pastilha de cloro, que
deve seguir rigorosamente a RCD 14/2.017 da ANVISA.
Esta RESOLUÇÃO DA DIRETORIA
COLEGIADA e seu Anexo I da Portaria nº 354 da ANVISA, de 11 de agosto de
2006, republicada no DOU de 21 de agosto de 2006, em reunião realizada em 5 de
fevereiro de 2007, aprova o Regulamento Técnico para Produtos Saneantes com
Ação Antimicrobiana harmonizado no âmbito do Mercosul, e o maior destaque é
para os produtos de aplicações exclusiva em Piscinas, e para aplicação para Consumo Humano.
O produto de uso exclusivo para consumo humano, custa cerca
de seis vezes mais o custo do de uso para piscina, e em muitos casos a sua
aquisição é feita pelo menor preço, e sem as especificações corretas, daí os
problemas decorrentes de sua aplicação.
Hipoclorito
de sódio é um composto químico com fórmula (NaClO).
Uma solução de hipoclorito de sódio é usada frequentemente como desinfetante e
como agente alvejante; na verdade, é frequentemente chamado por apenas
"alvejante", geralmente a pastilha contem 12% de cloro ativo e o
restante de materiais inertes.
Hipoclorito
de cálcio é produzido através da reação do calcário com o
cloro. é um composto químico de fórmula Ca(ClO)2. É largamente usado
no tratamento de água e como agente alvejante (alvejante
em pó). Este composto é considerado relativamente estável e possui mais cloro
disponível do que o hipoclorito de sódio (alvejante
líquido). Possui uma concentração de cerca de 65% de cloro ativo e 35% de materiais
inertes.
Em se tratando de CHUPA
CABRA, vamos nos concentrar nos materiais inertes, principalmente os
oriundos de cálcio. Ocorre que este método de tratamento por meio de aplicação
de cloro com desgaste e consequente arraste de partículas da pastilha para o
meio liquido, faz com que o consumidor final, beba uma água desinfetada, ou
seja com ausência de patogênicos, porém com excesso de materiais inertes, que
podem provocar ou acelerar doenças principalmente renais, como pedra nos rins,
ou cálculo renal.
A
PREVENÇÃO DO CÁLCULO DE CÁLCIO, segundo o Dr. Dráuzio Varella
em
7 de abril de 2011
Revisado
em 28 de setembro de 2018
..........O quadro é
frequente: cerca de 10% das pessoas terão uma ou mais crises em suas
vidas. Quem já teve e eliminou uma pedra, tem 50% de possibilidade de
apresentar novo episódio nos cinco a sete anos seguintes. Os cálculos
eliminados pelas vias urinárias podem ser microscópicos ou tão
grandes que precisam ser retirados cirurgicamente.
.........Mais de 200
componentes foram descritos em cálculos renais, mas a maioria deles é
constituída por oxalato de cálcio.
A maior parte dos
portadores da doença apresenta absorção exagerada de cálcio através do
intestino e, como consequência, excreção urinária mais elevada.
.........Uma vez que a
formação de cálculos está relacionada com a absorção de cálcio, a
modificação de hábitos alimentares é um procedimento atraente na
prevenção.
Uma dieta pobre em
cálcio pode parecer lógica, mas como esse elemento é fundamental para a
formação do esqueleto, ela está associada à diminuição da densidade
óssea e à osteoporose.
Estudos sugerem que
dietas com conteúdo normal de cálcio, mas pobres em proteína animal e em
sal, podem ser úteis na prevenção de cálculos. Até hoje, no
entanto, não havia sido publicado um único ensaio que as
comparasse com as dietas pobres em cálcio.
Esse estudo acaba de
ser realizado por um grupo da Universidade de Parma, na Itália. Foram
separados 120 homens com história de mais de um episódio de eliminação de
cálculos de oxalato de cálcio e que apresentavam aumento da
excreção urinária de cálcio (hipercalciúria).
Metade deles foi
colocada numa dieta com conteúdo normal ou até mais elevado de cálcio e pobre
em proteína animal (carne vermelha, frango, peixe e ovos). A outra metade
foi aconselhada a evitar leite, iogurte e queijos para reduzir
drasticamente a quantidade de cálcio ingerida.
Ambos os grupos receberam
a recomendação de ingerir 2 litros de água por dia no inverno e 3 litros
no verão.
Foi permitida a
ingestão de vinho, cerveja, café e refrigerantes em quantidades moderadas.
O grupo foi acompanhado durante cinco anos.
Dos 60 homens que
receberam dietas pobres em proteína e sal, mas ricas em cálcio, 12 apresentaram
novos episódios de calculose. Dos outros 60, que ingeriram dieta pobre em
cálcio (e com conteúdo normal de proteína e sal), 23 tiveram recidiva
do quadro – quase o dobro de risco.
Os níveis urinários de
cálcio nas duas dietas caíram significativamente, mas a excreção de
oxalato de cálcio na urina (o principal componente dos cálculos) aumentou no
grupo que ingeriu pouco cálcio e foi reduzida no grupo mantido com dieta de
conteúdo normal de cálcio e pobre em proteína e sal.
Essa diferença pode ser
explicada pelo aumento da absorção intestinal de oxalato de cálcio provocada
pelos baixos níveis de cálcio ingerido. Já nas dietas com conteúdo normal
de cálcio, esse elemento está mais disponível para formar complexos com
oxalato na luz intestinal, dificultando sua absorção.
Discutindo esse estudo
em editorial publicado na revista The New England Journal of Medicine,
David Bushinsky, da Universidade de Rochester, escreve: “Hoje podemos
afirmar que uma dieta contendo quantidades adequadas de cálcio (1.200mg
por dia) em conjunto com a diminuição da quantidade de proteína animal e
de sal é superior às dietas pobres em cálcio na prevenção da formação de
cálculos de oxalato de cálcio”.
E enfatiza: “Os médicos
não devem mais prescrever dietas pobres em cálcio para prevenir
recorrências de calculose”.
Segundo
Problema: O Controle de Dosagem
Como o processo de adição de cloro e por meio de lixiviação
da pastilha, com arraste de partículas para o meio liquido, a quantidade de
produto dentro do chupa cabra, geralmente não é controlada, o que implica em
redução do poder de desinfecção a medida em que ocorre maior desgaste, e ou
ausência de produto, situação muito frequente em várias localidades.
Quando o poço tem paradas de vária horas, e a instalação não
permite retorno para o interior do poço, a pastilha continua sendo degradada no
meio liquido dentro do tubo de armazenamento, gerando uma super dosagem no
funcionamento inicial, quando do retorno do sistema.
Terceiro
Problema: Instalação inadequada
A instalação inadequada do Chupa Cabra, com o lançamento
após a válvula de retenção, provoca uma super cloração no poço, quando da
ocorrência de paradas, isto em decorrência do retorno do fluxo, e passagem
lenta e continua de um fluxo em sentido inverso. As consequências são a
corrosão dos edutores quando estes são de ferro galvanizados.
Conclusão:
Na busca de soluções caseiras e muito baratas a população fica a mercê de uma
qualidade de tratamento do tipo “assopra mas morde”, ou seja, cria uma falsa
qualidade com a desinfecção mas gera problemas colaterais de sua má aplicação,
com produtos inadequados ao consumo humano, com super ou ausência de dosagens,
em detrimento a tecnologias assemelhadas, porém com instalações adequadas de
preparo de solução e aplicação com tecnologia que evite as ocorrências listadas
neste ensaio.
Continua: O CHUPA CABRA - Parte 2