O
SANEAMENTO E O TEMPO DAS “VACAS GORDAS” E “VACAS MAGRAS”
Crédito: Sidney Rezende
Eu
já vivi o Saneamento em tempo de “vacas gordas” e em tempo de “vacas magras”
...
Hoje,
porém, tenho duvidas do tempo que vivo. Hoje há muitas "vacas magras", mas também tem
por aí as bem gordas. Como a maioria são "vacas magras", esse então é o tempo.
Algumas
emagreceram e outras continuaram a engordar. Somos, portanto, uma manada mais
injusta e desigual, uma das mais desiguais do País no que concerne ao Saneamento
Básico...
O
PRIMEIRO PERIODO DE "VACAS MAGRAS"
Este
período foi antes do PLANASA, ou seja, até 1.970, onde o setor do Saneamento
Básico no Brasil se caracterizava por:
- ·
Projetos Isolados, no âmbito de cada
comunidade;
- · Ausência de um Sistema Racional de
Tarifas e deterioração das mesmas pela inflação;
- · Política de Empreguismo;
- ·
Escassez de Recursos Financeiros,
Humanos e Técnicos;
- ·
Grande Número de Organismos atuando, sem
coordenação.
O ÚNICO PERIODO DE VACAS GORDAS
Este
Período foi durante o PLANASA, que investiu no Brasil nos 16 anos entre 1971 e
1986 aproximadamente 10 bilhões de dólares correntes da época, ou 625 milhões
de dólares correntes por ano:
Hoje
corresponderiam a aproximadamente 35 Bilhões de dólares no total dos 16 anos ou
2,2 bilhões de dólares por ano, equivalentes a aproximadamente 8,5 Bilhões de
Reais atuais.
Note-se
para uma população ainda bem abaixo dos 200 milhões.
O
PLANASA teve o grande mérito de estabelecer pela primeira vez como objetivo de
longo prazo para o setor o DEFICIT ZERO, ou seja, a UNIVERSALIZAÇÃO DO ACESSO À
ÁGUA E AO ESGOTO, com base em alguns princípios ainda hoje válidos:
- · Eficiência e Eficácia na Operação;
- ·
Planejamento e Estudo de Viabilidade
Global
- · EVG (Estudo de Viabilidade Global) com 5
anos de horizonte e revisão anual;
- ·
CAPACITAÇÃO e QUALIFICAÇÃO dos Recursos
Humanos, com 117 mil oportunidades de treinamento entre 1973 e 1986;
- · Redução de Custos, através de Ganho de
Escala e Desenvolvimento Institucional;
- · Subsídio Cruzado; e - os Fundos de Água e Esgotos - FAE’s em cada estado, alimentados com até 5% da Receita Tributária Estadual (RTE), e projetados para tornar auto suficiente o financiamento do setor dentro de 20 anos. (Fonte: Carlos Alberto Rosito, Vice Presidente Nacional da ABES)
O
SEGUNDO PERIODO DE VACAS MAGRAS 2
- · Redução dos Recursos NÃO ONEROSOS, nos 3
Níveis de Governo;
- · Redução da Capacidade de Gestão /
Planejamento e Investimento das Companhias Estaduais de Saneamento (CESB’s),
das quais apenas umas poucas Grandes Operadoras são saudáveis;
- · Poucos “ALTOS” e muitos “BAIXOS” nos
volumes anuais de Investimento;
- ·
Quase Desaparecimento dos FINANCIAMENTOS
FGTS entre 1998 e 2003;
- · Redução Relevante do Investimento anual
por habitante urbano em Água e Esgotos de um pico de aproximadamente R$
150/habitante urbano/ano, no ano de 1981, pico do PLANASA, para apenas aproximadamente
R$ 60/habitante urbano/ano, em 2017.
Vivemos
um período de INSUCESSO no que se refere ao abastecimento de água potável;
- Um INSUCESSO do Modelo Institucional, que criou as Companhias Estaduais de Saneamento
- Um INSUCESSO em COLETA e TRATAMENTO DE ESGOTOS, SANEAMENTO RURAL e Fundos de Água e Esgotos – FAE’s.
E
olhe, que as promessas foram tantas.
- · Primeiro foi a lei 11.445/2007, com o estabelecimento de novas diretrizes nacionais para o saneamento básico.
- · Seguiu-se o PAC - Programa de Aceleração do Crescimento em 2.008
O resultado foi pífio,
comparando apenas o Nordeste, que apesar de ter recebido quase a metade de
todos os repasses do PAC do Saneamento destinados ao abastecimento de água e
tratamento de esgoto, a região estagnou na incômoda posição de
vice-líder no ranking nacional de deficiência sanitária, ficando atrás apenas
da região Norte no Painel do Saneamento elaborado pelo Instituto Trata Brasil a
partir de dados oficiais
Apesar desta
avalanche de recursos, restou Cerca de 150 obras paralisadas vinculadas a
saneamento no Brasil. Elas representam cerca de R$ 4 bilhões em investimentos,
empregam 217 mil pessoas e beneficiam 113 municípios. Fonte: Agência
Câmara de Notícias
Segundo o Tribunal
de Contas da União (TCU), o Brasil tem mais de 14 mil obras inacabadas, em
contratos que somam R$ 144 bilhões. O total de dinheiro necessário para cobrir
as despesas com obras paradas é maior do que toda a verba dos Ministérios da
Educação (R$ 113,7 bilhões) e da Defesa (R$ 112,6 bilhões).
Cidade
Universitária, Manaus, é uma das 14 mil obras paralisadas no Brasil
No quesito
saneamento, Planalto da Serra, município com uma população estimada de 2,7 mil
habitantes e com uma obra de saneamento para abastecimento de água orçada em R$
6,4 milhões. Conforme a lista divulgada pelo Senado, a obra apresenta menos de
50% de execução.
Em Castanheira e
Aripuanã existem 2 obras de R$ 3,3 milhões e de R$ 3,6 milhões,
respectivamente, para saneamento rural, ambas com menos de 50% de execução das
obras. No município de Cotriguaçu consta uma obra de R$ 4,4 milhões para
esgotamento sanitário com menos de 50% de execução. Os recursos são da Fundação
Nacional de Saúde. Confresa está na mesma situação com 2 obras de R$
7,8 milhões e R$ 4,7 milhões, ambas com mais de 50% de execução.
Vivemos uma nova
promessa:
Com a aprovação da
Lei nº 14.026/2020, institui-se o NOVO MARCO LEGAL DO SANEAMENTO, cujo
objetivo é que, até 2033, 99% da população brasileira tenha acesso à água
potável e 90% a tratamento e coleta de esgoto.
Faltam só 11 anos, e
os estados brasileiros ainda estão patinando na implantação do modelo de
regionalização, que objetiva promover a licitação de blocos de municípios,
propiciando a prática do subsídio cruzado do tempo das Vacas Gordas.
Se até hoje o
dinheiro público não resolveu o problema, a opção do NOVO MARCO LEGAL DO
SAEAMENTO, é o investimento privado, cujos modelos já estão amplamente
consolidados, tanto na gestão do serviço, como no de regulação.
Quem assume um
contrato de Concessão em saneamento básico, quer seja simples ou PPP, não
abandona obras.
O
DESAFIO:
Falta
Investimentos
Segundo o
estudo realizado pela KPMG em parceria com a ABCON, são necessários R$ 753 bilhões de investimentos na área de saneamento para atingir as
metas de índice de atendimento para a universalização dos serviços em todo o
território nacional até 2033. Fonte: (https://assets.kpmg/content/dam/kpmg/br/pdf/2020/07/kpmg-quanto-custa-universalizar-o-saneamento-no-brasil.pdf)
Ou
seja, 75,3 bilhões de reais/ano, a partir da data deste ensaio.
Enquanto
o sonho não se realiza, o Brasil continua com um investimento pífio que tende a
zerar no setor de saneamento conforme demonstrativo do Portal da transparência em
2021.
Excesso
de Judicialização no setor
1.
O processo pelo qual os tribunais e juízes tendem a dominar cada vez mais a
criação de políticas públicas já criadas (ou, acredita-se amplamente, que pelo
menos deveriam ser criadas) por outras agências governamentais, especialmente
legislativos e executivos, e (Vallinder)
2.
O processo pelo qual os fóruns de negociação e de tomada de decisão
não-judiciais tornam-se dominados por normas e procedimentos quase-judiciais
(legalistas). (TATE, 1995, p. 28, tradução nossa).
TEREMOS
UM NOVO PERÍODO DE VACAS GORDAS???
Quem
viver verá....