sexta-feira, 13 de junho de 2025

 

50 ANOS DE ENGENHARIA GENERALISTA

É com uma emoção indescritível e um coração transbordando de orgulho que se registra, neste marco de cinquentenário, a grandiosa jornada da nossa Turma de Engenharia Civil de 1975 da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT).

 Para nós, que vivenciamos cada passo dessa formação, esta data não é apenas um jubileu de ouro; é a cristalização de um legado, a celebração de uma vida dedicada e a lembrança vívida de um tempo fundamental em que nos forjamos como engenheiros e cidadãos.

Passaram-se cinco décadas desde que, jovens e cheios de ideais, deixamos os corredores da UFMT. Lembro-me claramente do vibrante ambiente acadêmico, das horas de estudo, dos debates construtivos e da sólida camaradagem que nos uniu, permeando os desafios intelectuais e as descobertas. Naquele período, a crença na engenharia como motor de transformação para o Brasil era uma força motriz, e essa chama, acesa em 1975, continua a brilhar intensamente na memória e nas realizações individuais e coletivas.

A formação que recebemos, à época, destacava-se por sua singularidade. Éramos a personificação do "ENGENHEIRO GENERALISTA", um conceito que, na paisagem atual de hiperespecialização, talvez exija um olhar mais aprofundado para ser plenamente compreendido. Nossos currículos foram meticulosamente desenhados para nos proporcionar uma compreensão abrangente e profunda das diversas vertentes da engenharia civil. Mergulhávamos no estudo de estruturas, visualizando as grandes edificações do futuro; desvendávamos a complexidade dos transportes, imaginando as rodovias que interligariam este vasto país; explorávamos os sistemas hidráulicos e de saneamento, essenciais para a qualidade de vida; e nos aprofundávamos na geotecnia, aprendendo a interpretar a essência do solo. A premissa não era o domínio de uma única disciplina, mas sim o desenvolvimento de uma visão sistêmica, uma rara capacidade de transitar entre as áreas e de conceber um projeto em sua totalidade, desde a concepção inicial até a execução final. Como o valioso documento que celebra este momento tão bem destaca: fomos preparados para ter uma "visão sistêmica e a capacidade de transitar entre elas".

Entretanto, nossa jornada acadêmica não foi isenta de obstáculos. Recordo-me nitidamente dos desafios colossais que enfrentávamos, em particular a escassez de literatura técnica e de livros didáticos em português. Muitas vezes, a busca por conhecimento de ponta nos levava a publicações estrangeiras, exigindo um esforço adicional de tradução e adaptação. Essa limitação bibliográfica, paradoxalmente, revelou-se uma forja. Ela nos impulsionou a adotar uma abordagem mais prática e engenhosa, a buscar soluções "na raça", a exercitar a criatividade e a inovar com os recursos disponíveis. Essa adversidade, longe de nos deter, fortaleceu nossa capacidade de raciocínio independente e de aplicação dos princípios teóricos em cenários reais, muitas vezes com recursos limitados – uma lição valiosa que carregamos para a vida profissional. Apenas no ano de 1976, tive a oportunidade de conhecer uma calculadora eletronica, ainda assim de posse de um Engenheiro alemão que visitava a UFMT.


Régua de Cálculo



Escalímetro Triangular


Normógrafo

Essa filosofia educacional, com sua ênfase na amplitude, não surgiu por acaso. Tinha um alicerce legal e filosófico robusto: o Decreto Federal nº 23.569, de 11 de dezembro de 1933. Este marco regulatório foi fundamental para unificar e padronizar as profissões de engenheiro, arquiteto e agrimensor no Brasil, consolidando a identidade da engenharia nacional e, de forma decisiva, moldando o perfil do engenheiro generalista. Lembro que essa regulamentação assegurava que, ao concluirmos a graduação, tivéssemos uma base sólida em matemática, física, química e em todas as ramificações da engenharia civil. Essa amplitude de conhecimento nos permitiu não nos restringirmos a nichos específicos, mas sim atuar em múltiplos setores, contribuindo de maneira decisiva para o desenvolvimento urbano e rural, para a infraestrutura de transportes, para o saneamento básico e para o avanço da indústria. Fomos formados para ser o "engenheiro completo", aptos a atuar em "múltiplos fronts e de conceber soluções inovadoras para os desafios de um país em plena expansão".

Ao longo dessas cinco décadas, nossas mãos e mentes estiveram intrinsecamente ligadas à projetos e construções. Participamos ativamente da concepção e execução de obras que transformaram paisagens e vidas: rodovias que encurtaram distâncias, pontes que uniram comunidades, edifícios que se ergueram como símbolos de progresso e sistemas de saneamento que promoveram saúde e bem-estar. A formação abrangente que recebemos foi crucial. Ela nos concedeu a resiliência para nos adaptarmos às constantes mudanças tecnológicas e aos novos desafios que surgiam, reafirmando a perene validade de uma base de conhecimento sólida e versátil. A adaptabilidade, que se tornou nossa ferramenta principal, e a robustez do conhecimento fundamental, nossa rocha, resistiram ao teste do tempo.

Olhando para trás, não se veem apenas anos de árduo trabalho, mas uma vida permeada de propósito e de contribuição inestimável. É com grande orgulho que registramos os nomes que compõem esta turma histórica, inscritos na placa afixada na UFMT, para a posteridade:



Alfredo Carlos Martins (†), Antonio Evaristo de Marchi, Benedita Yvelise de Miranda, Dejair Arantes Lima (†), Edson Laje de Souza, Gilson Oliveira dos Santos (†), Heliana Vilela de Oliveira, Ingrid Herman, Joely Leite de Barros, Jorcy Francisco de França Aguiar, José Anibal M. Torres, Lourival José Ferreira, Luiz Bondespacho Nunes, Maria Leticia Matos Conceição, Osvaldo Gomes Bezerra (†), Paulo Modesto Filho, Quidauguro M. Santos da Fonseca (†), Sinomar Alves Silveiro (†), Wilson de Oliveira e Wilson Pinto (†).

E com igual reverência, lembramos os que nos guiaram e inspiraram: o Professor Arthur Waldir Anffe, que honrosamente emprestou seu nome à turma, o Patrono José Garcia Neto e o Paraninfo Carlos Augusto Alves Corrêa.

A experiência que acumulamos como ENGENHEIROS GENERALISTAS ao longo dessas décadas reforçou uma verdade incontestável: a amplitude do conhecimento é uma bússola insubstituível em um cenário que se torna cada vez mais intrincado e desafiador. Embora a especialização seja, sem dúvida, vital, a capacidade de interligar diferentes áreas, de cultivar uma visão holística e de se adaptar com agilidade a novas realidades é o que nos permitiu, e continua a permitir, navegar pelas complexidades do século XXI. É o desejo que nossa trajetória sirva de inspiração para as futuras gerações de engenheiros, encorajando-os a buscar não apenas a profundidade da especialização, mas também a vastidão do conhecimento que caracteriza os verdadeiros mestres em sua arte.

Este jubileu de ouro, portanto, transcende a mera celebração de um evento passado. É um registro histórico vivo, um testemunho do impacto e da resiliência da Turma de Engenharia Civil de 1975 da UFMT, muitos em memória, alguns de pijama, e outros ainda na ativa.

É um convite à reflexão sobre a importância de uma formação acadêmica robusta, da capacidade de superação diante das adversidades e do legado duradouro que a engenharia oferece à construção de uma sociedade melhor. Que este registro sirva como um tributo perene à nossa jornada, um reconhecimento do nosso inestimável contributo, e uma inspiração para as gerações que hão de vir.

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E hoje viva a INTELIGENCIA ARTIFICIAL, minha parceira diária nas atividades de engenharia, sinal de novos tempos.






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